Show de lançamento da mixtape “Até Surdo Ouviu”, do Coruja, conta com participações especiais de rappers da região (foto: Lais Semis) |
Contagiante. Essa é a palavra que define o show do rapper. Lançando sua
nova mixtape, o jovem fez até surdo ouvir
Com apenas 18 anos, o jovem
Gustavo Vinícius Gomes de Souza, mais conhecido como Coruja BC1, vem tocando
mentes e corações através de seu rap. O apelido, que recebeu quando ainda era
criança, Coruja, é seguido pela sigla BC1, que significa “Buscando um
Conhecimento”. A expressão resume as intenções do rapper, de estar sempre em
busca de aprendizado e sabedoria. Isso tem reflexo em suas canções, que possuem
um forte cunho social, abordando temas como a desigualdade, o preconceito, corrupção
e violência. “Eu acredito na transformação através da arte e acredito que o rap
tem como função trazer essa transformação social através da música”, conta
Coruja.
A sinceridade e a emoção
presentes nas canções de Coruja cria uma identificação e uma união com o
público formado, em sua maioria, por pessoas de zonas e bairros periféricos da
cidade de Bauru. E foi essa energia que inundou o bar Alecrim no último sábado
(22) durante o show de lançamento da mixtape “Até Surdo Ouviu”. A estudante de
jornalismo Keytyane Medeiros, que marcou presença no show, conta que passou a
conhecer mais o rap depois de ter se mudado para Bauru por conta da forte
produção cultural que o município tem em relação ao hip hop: “Pra mim, ver um
cara como o Coruja, jovem, cheio de críticas e sonhos que se expressam na
música, foi demais. O show de sábado foi emocionante! Teve até uma hora em que
ele saiu do palco e ficou cantando no meio do público, puxando a galera, foi
demais”.
Coruja que também se emocionou
durante o show, reconhece a importância da proximidade e união com o público: “Nosso
amor pelo hip hop é como genética, de irmão pra irmão. Sem um público
verdadeiro não existiria Coruja BC1... Até hoje não vi mc's fazerem show no
deserto”.
Para saber mais sobre o show de
lançamento da mixtape “Até Surdo Ouviu” e conhecer um pouco do trabalho do jovem
rapper, leia a entrevista do Entre
Bandas com Coruja BC1:
Depois de tantas horas e dias dedicados à produção da mixtape “Até
Surdo Ouviu”, qual foi sua sensação ao pisar no palco no lançamento da mixtape?
A sensação é de gratidão ao ver
um sonho sendo realizado depois de tanta dedicação e trabalho. É uma forte
emoção ver tantas pessoas se identificando com a nossa mensagem. A emoção foi
tão grande que nem palavras não conseguem dimensionar o que eu senti no
momento.
O que você achou do público durante o show?
É muito louco você ver as pessoas
se identificando com a sua mensagem e história de vida. Isso porque muitas das
dificuldades enfrentadas por mim também são enfrentadas por todos que estavam
ali. E o show não foi feito por mim, mas pelo público, que somou, cantou e fez
barulho do começo ao fim, provando de fato que nós, os integrantes da cultura
hip hop, somos uma grande e verdadeira família.
A apresentação contou com participações, como o grupo Além da Rima, Dom
Black e MC Dentão. Como surgiram essas parcerias?
As parcerias nascem porque a
gente sempre está junto dividindo as ideias, e acaba que, no fim, juntamos tudo
na música.
Falando em participação... Percebemos, durante o show, sua proximidade
com o público, uma forte interação. Isso faz parte da essência de suas músicas
e do rap em si? O contato com a galera?
Sim, pois o rap é a união. Ninguém
constrói nada sozinho, todos que estavam ali têm uma história de vida parecida
com a minha. Nosso amor pelo hip hop é como genética, de irmão pra irmão. Sem
um público verdadeiro não existiria Coruja BC1... Até hoje não vi mc's fazerem
show no deserto.
Por que o nome “Até Surdo Ouviu” para a mixtape? Como veio essa ideia?
Eu estrava precisando de um nome
para a mixtape. Procurei, procurei, e já tinha até desencanado de procurar,
pensando "uma hora flui...". Certo dia, eu estava fazendo um beat e o
sampler era uma das músicas de uns dos álbuns da Nina Simone. Escutando a
música dela antes de samplear, eu pensei que até se eu fosse surdo eu sentiria
o sentimento que ela passava através da música. E veio o nome da hora:
"até surdo ouviu". Acredito que quando a música é feita de coração,
ainda que você não tenha o sentido da audição, você irá senti-la. Pensando
nisso, eu intitulei minha mixtape por "Até surdo ouviu".
Pra você, qual a importância do rap para a conscientização das pessoas?
Porque vemos, no conteúdo de suas canções, uma abordagem social, com temas como
desigualdade, violência, preconceito...
Eu acredito na transformação
através da arte e acredito que o rap tem como função trazer essa transformação
social através da música. Creio que quando você canta, você tem que ter algo a
dizer, e quando você representa pessoas que acreditam em você e no seu
trabalho, nada mais justo do que brigar por um mundo melhor para elas.
E as inspirações e influências para fazer as músicas? O que você
escuta?
Samba, jazz, rap, rock, blues, gospel,
black music, bossa nova, reggae, e tudo mais que possa acrescentar algo na minha musicalidade e nos
meus pensamentos.
“O rap de Bauru não morreu”. O que você acha do reconhecimento da
cultura hip-hop no estado de São Paulo e, particularmente, em cidades do
interior?
São Paulo e o interior paulista
têm uma cena forte demais e, particularmente o interior paulista, tem artistas
fantásticos, com talentos e habilidades raros de encontrar. Pra gente, na nossa
cidade, faltavam apoio e incentivo de entidades públicas e privadas, quadro que
vem mudando por conta do grande trabalho realizado pelo Ponto de Cultura Acesso
Hip Hop, que vem fomentando e estimulando a cultura em nossa cidade. Hoje,
muitos dos talentos que vêm sendo revelados em Bauru saem da cidade e recebem
apoio total do Ponto de Cultura.
Um desses talentos tem o nome Gustavo
Vinicius, ou seja, eu: Coruja BC1. Sou muito grato a Deus por ter proporcionado
pra gente essa ferramenta, que capacita eu e tantos outros grupos de rap de Bauru
a impulsionarem seus trabalhos e fortalecerem os demais em um coletivo.
Obrigada pela entrevista, Coruja! E parabéns pelo seu trabalho. Quer
deixar algum recado para a galera que também tem esse sonho de subir aos palcos
e cantar músicas próprias?
Eu que agradeço pela entrevista e
pelas perguntas muito bem elaboradas, parabéns mesmo. Então, tenho sim: nunca
desista! Por mais que demore o seu sonho e venha a adversidade, não cruze os
braços. Esteja ruim como estiver, sempre agradeça a Deus! Nunca queira subir
usando as outras pessoas como degraus. E, quando você subir, não se esqueça de
toda honra e glória e do Senhor. Daqui, já estou orando por todos que têm um
sonho e lutam pra realizá-lo. Paz e “tamo junto”!
Camila Pasin
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