sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Buscando conhecimento através do rap




Show de lançamento da mixtape “Até Surdo Ouviu”, do Coruja, conta com participações especiais de rappers da região (foto: Lais Semis)

Contagiante. Essa é a palavra que define o show do rapper. Lançando sua nova mixtape, o jovem fez até surdo ouvir

Com apenas 18 anos, o jovem Gustavo Vinícius Gomes de Souza, mais conhecido como Coruja BC1, vem tocando mentes e corações através de seu rap. O apelido, que recebeu quando ainda era criança, Coruja, é seguido pela sigla BC1, que significa “Buscando um Conhecimento”. A expressão resume as intenções do rapper, de estar sempre em busca de aprendizado e sabedoria. Isso tem reflexo em suas canções, que possuem um forte cunho social, abordando temas como a desigualdade, o preconceito, corrupção e violência. “Eu acredito na transformação através da arte e acredito que o rap tem como função trazer essa transformação social através da música”, conta Coruja.

A sinceridade e a emoção presentes nas canções de Coruja cria uma identificação e uma união com o público formado, em sua maioria, por pessoas de zonas e bairros periféricos da cidade de Bauru. E foi essa energia que inundou o bar Alecrim no último sábado (22) durante o show de lançamento da mixtape “Até Surdo Ouviu”. A estudante de jornalismo Keytyane Medeiros, que marcou presença no show, conta que passou a conhecer mais o rap depois de ter se mudado para Bauru por conta da forte produção cultural que o município tem em relação ao hip hop: “Pra mim, ver um cara como o Coruja, jovem, cheio de críticas e sonhos que se expressam na música, foi demais. O show de sábado foi emocionante! Teve até uma hora em que ele saiu do palco e ficou cantando no meio do público, puxando a galera, foi demais”. 

Coruja que também se emocionou durante o show, reconhece a importância da proximidade e união com o público: “Nosso amor pelo hip hop é como genética, de irmão pra irmão. Sem um público verdadeiro não existiria Coruja BC1... Até hoje não vi mc's fazerem show no deserto”. 

Para saber mais sobre o show de lançamento da mixtape “Até Surdo Ouviu” e conhecer um pouco do trabalho do jovem rapper, leia a entrevista do Entre Bandas com Coruja BC1:

Depois de tantas horas e dias dedicados à produção da mixtape “Até Surdo Ouviu”, qual foi sua sensação ao pisar no palco no lançamento da mixtape?
A sensação é de gratidão ao ver um sonho sendo realizado depois de tanta dedicação e trabalho. É uma forte emoção ver tantas pessoas se identificando com a nossa mensagem. A emoção foi tão grande que nem palavras não conseguem dimensionar o que eu senti no momento.

O que você achou do público durante o show?
É muito louco você ver as pessoas se identificando com a sua mensagem e história de vida. Isso porque muitas das dificuldades enfrentadas por mim também são enfrentadas por todos que estavam ali. E o show não foi feito por mim, mas pelo público, que somou, cantou e fez barulho do começo ao fim, provando de fato que nós, os integrantes da cultura hip hop, somos uma grande e verdadeira família.

A apresentação contou com participações, como o grupo Além da Rima, Dom Black e MC Dentão. Como surgiram essas parcerias?
As parcerias nascem porque a gente sempre está junto dividindo as ideias, e acaba que, no fim, juntamos tudo na música.

Falando em participação... Percebemos, durante o show, sua proximidade com o público, uma forte interação. Isso faz parte da essência de suas músicas e do rap em si?  O contato com a galera?
Sim, pois o rap é a união. Ninguém constrói nada sozinho, todos que estavam ali têm uma história de vida parecida com a minha. Nosso amor pelo hip hop é como genética, de irmão pra irmão. Sem um público verdadeiro não existiria Coruja BC1... Até hoje não vi mc's fazerem show no deserto.

Por que o nome “Até Surdo Ouviu” para a mixtape? Como veio essa ideia?
Eu estrava precisando de um nome para a mixtape. Procurei, procurei, e já tinha até desencanado de procurar, pensando "uma hora flui...". Certo dia, eu estava fazendo um beat e o sampler era uma das músicas de uns dos álbuns da Nina Simone. Escutando a música dela antes de samplear, eu pensei que até se eu fosse surdo eu sentiria o sentimento que ela passava através da música. E veio o nome da hora: "até surdo ouviu". Acredito que quando a música é feita de coração, ainda que você não tenha o sentido da audição, você irá senti-la. Pensando nisso, eu intitulei minha mixtape por "Até surdo ouviu".

Pra você, qual a importância do rap para a conscientização das pessoas? Porque vemos, no conteúdo de suas canções, uma abordagem social, com temas como desigualdade, violência, preconceito...
Eu acredito na transformação através da arte e acredito que o rap tem como função trazer essa transformação social através da música. Creio que quando você canta, você tem que ter algo a dizer, e quando você representa pessoas que acreditam em você e no seu trabalho, nada mais justo do que brigar por um mundo melhor para elas.

E as inspirações e influências para fazer as músicas? O que você escuta?
Samba, jazz, rap, rock, blues, gospel, black music, bossa nova, reggae, e tudo mais que possa  acrescentar algo na minha musicalidade e nos meus pensamentos. 

“O rap de Bauru não morreu”. O que você acha do reconhecimento da cultura hip-hop no estado de São Paulo e, particularmente, em cidades do interior?
São Paulo e o interior paulista têm uma cena forte demais e, particularmente o interior paulista, tem artistas fantásticos, com talentos e habilidades raros de encontrar. Pra gente, na nossa cidade, faltavam apoio e incentivo de entidades públicas e privadas, quadro que vem mudando por conta do grande trabalho realizado pelo Ponto de Cultura Acesso Hip Hop, que vem fomentando e estimulando a cultura em nossa cidade. Hoje, muitos dos talentos que vêm sendo revelados em Bauru saem da cidade e recebem apoio total do Ponto de Cultura.
Um desses talentos tem o nome Gustavo Vinicius, ou seja, eu: Coruja BC1. Sou muito grato a Deus por ter proporcionado pra gente essa ferramenta, que capacita eu e tantos outros grupos de rap de Bauru a impulsionarem seus trabalhos e fortalecerem os demais em um coletivo.

Obrigada pela entrevista, Coruja! E parabéns pelo seu trabalho. Quer deixar algum recado para a galera que também tem esse sonho de subir aos palcos e cantar músicas próprias?
Eu que agradeço pela entrevista e pelas perguntas muito bem elaboradas, parabéns mesmo. Então, tenho sim: nunca desista! Por mais que demore o seu sonho e venha a adversidade, não cruze os braços. Esteja ruim como estiver, sempre agradeça a Deus! Nunca queira subir usando as outras pessoas como degraus. E, quando você subir, não se esqueça de toda honra e glória e do Senhor. Daqui, já estou orando por todos que têm um sonho e lutam pra realizá-lo. Paz e “tamo junto”!

Camila Pasin


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