“O Rio de Janeiro é um dos centros mundiais do jabaculê. Nós somos testas-de-ferro das mesmas gravadoras que não deixam tocar música brasileira no rádio”. Autor de frases sinceras e marcantes, Tim Maia chamava a atenção dos brasileiros com suas atitudes, além da música (foto: Site Oficial Tim Maia) |
Disco em homenagem aos 70 anos de talento e personalidade de Tim Maia é lançado hoje
Há 70 anos, no dia 28 de Setembro, nascia Sebastião Rodrigues Maia, menino engraçado e cheio das travessuras, que anos depois ficou conhecido como o “síndico da música brasileira”. Foi na Rua Afonso Pena 24, localizada no Bairro da Tijuca – Rio de Janeiro, que cresceu “Tião Marmiteiro”, apelido que ganhou de seu amigo Erasmo Carlos (o “Tremendão”) por ajudar a família entregando marmita enquanto ainda criança. Foi desse modo que dois grandes nomes da música brasileira, Erasmo Carlos e Tim Maia, se encontraram. O garoto Erasmo, que era um dos clientes, foi tirar satisfação pelo atraso do pedido. Tim Maia, irritado, resolveu persegui-lo para dar-lhe uma surra. Além disso, unindo o útil ao agradável, Tim aproveitou para saborear um pouco da comida que iria entregar, aliviando o peso da carga.
Comer era uma das paixões do caçula de dezoito irmãos, além da música. Aos 15 anos, começou a tocar bateria e depois violão no grupo Tijucanos do Ritmo. Logo depois, mergulhou ainda mais no mundo do rock com seus ilustres companheiros Roberto Carlos, Jorge Ben e Erasmo Carlos. Ainda na adolescência, fascinado com o novo mundo que havia descoberto – o das drogas e do álcool – o jovem Sebastião embarcou em uma excursão de padres com destino a Nova York. Chegou ao solo norte-americano com 12 dólares no bolso, mas muita energia e vontade de viver. Essa liberdade chegou ao fim quando o cantor foi preso na Flórida e deportado para o Brasil. As últimas palavras que ouviu nos Estados Unidos foram: “Nunca mais ponha os pés aqui”.
Tim Maia sempre apresentou interesse e talento para a música. Ainda adolescente, participou da banda The Sputniks junto com Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que ingressou depois no grupo (foto: Site Oficial Tim Maia) |
Mas a viagem não se resumiu só a diversão e malandragens. Tim Maia soube aproveitar o tempo que ficou nos EUA para estudar música e adquirir mais experiência no ramo, através do contato com a soul music e rhythm’n'blues. Anos mais tarde, essa bagagem de novos ritmos do exterior uniu-se à inconfundível sonoridade nacional e, claro, à formidável voz do cantor e fez de Tim Maia um dos principais intérpretes e compositores brasileiros, campeão de vendas e de ‘hits’ veiculados pela mídia.
Voz intensa, personalidade singular
“Não fumo, não cheiro e não bebo, mas às vezes minto um pouquinho”. Uma das características pelas qual o cantor ficou conhecido foi sua forte personalidade, marcada pela clara sinceridade, bom humor e senso crítico. Gostava de tudo em excesso, vivia sem limites, expressava todos seus pensamentos. Não pagava a conta do supermercado para chamar atenção. E sempre deixava seus fãs e produtores de shows na expectativa sem saber se ele iria ou não comparecer ao evento. Mas foi esse jeito arrogante e divertido que conquistou o público brasileiro e os críticos de música, graças à sua capacidade de criar melodias inesquecíveis.
Hits tão inesquecíveis que qualquer brasileiro, independente da idade, sabe ao menos um trecho das canções de Tim Maia. “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, “Gostava Tanto de Você”, “O Descobridor dos Sete Mares” e “Do Leme ao Pontal” são alguns que permanecem na boca do povo. Uma das fases mais inspiratórias do artista foi os anos 70, período em que produziu com influências do funk e do soul, além de manter-se afastado de seus vícios, o que trouxe melhoria na qualidade de sua voz. Essa foi a chamada “fase racional”, por conta do contato do músico com a cultura racional, considerada um movimento cultural e uma doutrina filosófico-religiosa. As músicas “Que Beleza” e “Rodésia” foram feitas com base nessa ideologia.
Depois de deixar a fase “Tim Maia Racional”, ele continuou fazendo sucesso com sua impressionante voz. Fez parcerias com Lulu Santos, Nelson Motta, Jorge Ben Jor e gravou discos com canções românticas e uma pitada de bossa nova, mas mantendo sempre elementos do soul e do funk.
Já se passaram 70 anos desde o nascimento de Tim Maia. O que não passou foi a influência e a importância dessa figura na música. E isso não se restringiu só ao Brasil... Aquele país no norte do continente americano, que foi palco de malandragens de um adolescente com sede de viver e fome de aprender, ainda tem um pouco de Tim Maia. No dia de hoje, 2 de outubro de 2012, está sendo lançado o disco “Nobody Can Live Forever: The Existential Soul of Tim Maia”, da gravadora norte-americana Luaka Bop, de David Byrne, em homenagem ao cantor. A coletânea, que estará disponível em vinil duplo e MP3 pelo iTunes, terá como foco os primeiros anos da obra de Tim Maia, com destaque à sua discografia dos anos 70. Discografia essa que foi tratada como raridade pela gravadora, que também foi a responsável pelo lançamento de ícones como Caetano, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal Costa, Tom Zé e Os Mutantes. E nada melhor do que animadas festas com DJs e muita música para celebrar a data do septuagésimo aniversário de Tim Maia. Acontece hoje também uma coletiva internacional em rádios e lojas de discos de Nova York, Londres, Chicago, Belo Horizonte e outras cidades para relembrar as obras do cantor.
Abaixo vídeo de um show de Tim Maia em 1997, cantando “Gostava tanto de você”:
Camila Pasin
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