domingo, 2 de junho de 2013

Peleco: a grande aposta do Vale do Paraíba

Camila Pasin

Nascido na cidade de São José dos Campos/SP, o cantor Peleco, que já trabalhou na alfaiataria do pai e fez trabalhos como cinegrafista junto com o irmão, vem se destacando e conquistando o seu espaço no mundo da música. Com vinte anos de carreira, Peleco define seu estilo musical como “pop’n roll” e representa uma grande aposta da MPB e POP no Vale do Paraíba. Já se apresentou em mais de duzentas cidades do Brasil, além de outros países como Inglaterra, França, Peru e Uruguai.

O último álbum lançado pelo joseense foi gravado pela Som Livre de forma autoral, e teve produção e direção do cultuado produtor Guto Graça Mello. Alceu Valença, Netinho, George Israel (Kid Abelha), Milton Guedes (Sax e Flauta) e Priscilla Coutto tiveram participação no disco, que leva o nome do cantor Peleco.

Em relação a novos trabalhos, Peleco destaca a produção de um novo álbum que terá lançamento nacional, pela produtora Venus One, e o projeto "Peleco On The Road”, criado em comemoração aos seus 23 anos de carreira, e que tem como finalidade o incentivo à distribuição e democratização cultural, através de shows acústicos em praças localizadas em bairros com menor acesso à cultura.

Em entrevista concedida ao Entre Bandas, Peleco conta sobre tais projetos, sobre sua carreira, abordando as inspirações e dificuldades pelas quais enfrentou, além de mostrar uma opinião crítica em relação à música brasileira atual e ao incentivo da arte no Vale do Paraíba:

De que forma teve início sua carreira na música e como se deu seu interesse por esse ramo?
Cresci ouvindo muita música, pois sempre quando minha família se reunia em churrascos e festas em casa, traziam um violão para a roda e não paravam mais. Isso foi marcando minha infância e adolescência. As melodias, as letras, os artistas... Até que descobri Elvis Presley, e então tudo mudou! Logo fui estudar em um Seminário Salesiano, na cidade de Lavrinhas/SP e aprendi a tocar violão. Foi então que decidi que iria viver da música... O que, graças a Deus, faço até hoje.

Há algum projeto paralelo?
Além das apresentações de rotina, estou trabalhando em meu projeto "Peleco On The Road", o que estou amando fazer, é algo mágico! Este projeto tem um formato de show acústico, que estou oferecendo às prefeituras de cidades com até 10 mil habitantes, onde a população tem como hábito curtir as praças e fazer delas um ponto de encontro nos finais de semana. Para cidades maiores, os shows são feitos nas praças de bairros com menor acesso à cultura.

Preparei meu ônibus para essa turnê e atenderei às cidades num raio de até 250km. Funciona da seguinte maneira: a prefeitura contrata o show e minha empresa vai com seu ônibus - que servirá de camarim e fundo de palco -, entra com a estrutura de som e luz, além de um pequeno palco para o artista se apresentar, fazendo lembrar artistas de rua na Europa. Os shows terão duração de uma hora e vinte minutos. Após o show, daremos oportunidade aos artistas da região para uma breve apresentação valorizando, assim, a cultura local.

Esse projeto será realizado em comemoração aos meus 23 anos de carreira nas estradas do Brasil e do mundo. Faremos também ações sociais junto às prefeituras.


Com duas décadas de carreira, como foi a experiência de tocar no exterior, e qual show ficou mais marcado na memória, tanto no Brasil quanto fora?
Só descobrimos o poder da nossa música quando estamos literalmente fora de nossa zona de conforto. Só assim sentimos a força da nossa cultura étnica e rítmica. Não há gringo que não pare pra admirar nossa arte, que é tão criativa e alegre.

Fora do Brasil, um dos mais marcantes foi em Paris, num Café, ao lado do cemitério do Père-Lachaise. Foi um contraste visual entre alegria e história, tecnologia e conservadorismo.

Já no Brasil, eu poderia citar vários, mas nenhum se compara ao meu primeiro show. Emoção igual, acredito que nunca mais terei.

Como você define seu estilo musical?
Na verdade, eu sempre gostei de rock, tanto que meu ídolo é Elvis Presley. Adoro o pop, sou apaixonado pela MPB, mas penso que essa coisa de rótulo até atrapalha um pouco, pois gosto de cantar de tudo. Mas, se é pra definir meu estilo, eu digo que sou MPB, Pop'n roll (risos).

Quais as influências e inspirações para a composição das letras e melodia?
Nunca me achei de fato um compositor nato, nem mesmo um grande instrumentista. Comecei a compor por curiosidade, abordando situações e casos que aconteciam comigo ou com alguém bem próximo a mim. Só com o tempo fui melhorando as letras e melodias, compus algumas canções interessantes e marcantes. Talvez eu não tenha dado tanto valor a esse lado meu, mas para ser sincero, adoro mesmo é interpretar! (risos).

E as dificuldades que você teve de enfrentar para se firmar no cenário musical até chegar ao reconhecimento atual?
Já fiz quase de tudo! Cantei em velório, casamento, serenata na janela do noivo de uma amiga (eu fui o presente para o noivo, e minha amiga ficou escondida. Foi engraçado porque o pessoal acabou achando que éramos um casal gay (risos)). Além disso, já fiz show dentro de uma piscina, pois não tinha mais lugar para o músico tocar, então esvaziaram a piscina e foi ali mesmo. Já cantei para público errado, pois tocamos Caetano Veloso para um pessoal que queria baile Funk carioca, quase arrumamos encrenca nesse dia. Mas também abri show de mais de 40 artistas nacionais consagrados, cantei com alguns deles, e fiz shows em mais de 200 cidades no Brasil.

Na verdade, pouca gente quer dar oportunidade ao outro, vivemos o capitalismo cada vez mais selvagem. Dono de bar é assim: “tem público, eu contrato; não tem, não contrato”. Não há parceria pelo novo talento, somente pelo que já tem nome. Isso sem contar os cachês e os não repasses integrais do couvert artístico. É triste, mas isso não mudará tão cedo.
No passado, as pessoas não me deixavam dar canja (tocar junto com outro artista em apresentação) e eu voltava triste para casa. A partir de então, fui criando meu diferencial até que surgiu uma oportunidade em um bar já extinto atualmente, o Western House. Foi ali que comecei de fato a cantar na noite. Nós fomos nos adaptando e dando um jeito nas coisas. É necessário sempre se reinventar e trabalhar o marketing pessoal, caso contrário você é visto sempre como mais um.

Vale lembrar que até hoje tem músico que não deixa outro dar canja, achando que vai perder o lugar... Pura vaidade! Eu não acho essa atitude bacana, os músicos deveriam pensar nisso como um intercâmbio, pois quando for a sua vez de almejar a conquista de um novo espaço para se apresentar, aquele músico a quem você deu uma oportunidade no passado poderá, da mesma forma, retribuir a sua gentileza. Caso contrário, os dois perdem.

Uma curiosidade... Boa parte dos que me negaram canja hoje pedem para tocar comigo e os recebo de braços abertos, mesmo que talvez nem se lembrem disso. Por essas e outras que músico tem muita história pra contar.

Qual seria, para você, a principal diferença que o artista sente ao trabalhar de forma independente e com gravadora? O que mudou?
Trabalhando de forma independente, você tem liberdade, mas talvez haja falta de equipe, distribuição, e uma grande marca por trás o que, de certa forma, contribui para novas oportunidades. Com um investidor, o artista tem maiores possiblidades de ser contratado pelas gravadoras, o que foi o meu caso.

E como foi a gravação do seu primeiro CD com a Som Livre?
Foi a realização de um sonho, era um universo ainda quase desconhecido pra mim, fiz parcerias que jamais imaginei: Alceu Valença, Netinho da Bahia, George Israel do Kid Abelha, Milton Guedes. Cada um desses artistas tem um significado importantíssimo em minha formação musical. Alceu me remete a minha pré-adolescência, ouvindo meus primos e tios cantarem, e escutando discos de vinil. Netinho incendiava minhas noites de carnaval com invejável profissionalismo. George Israel compôs canções que até hoje embalam nossos corações. Já Milton Guedes encanta a todos com lindas melodias ao lado do grande Lulu Santos. Essa turma, junto a outros que não citei aqui, abrilhantaram meu trabalho com muito talento e hoje somos amigos.

Você trabalha com músicos famosos, como Adriano Trindade, Kiko Continentino, Arthur Maia, entre outros. Como se deu essa parceria e qual o aprendizado que você pôde obter com esses renomeados artistas?

Sou fã do Arthur Maia já há muito tempo, ele é um artista e tanto. Tive o privilegio de conhecê-lo através de um amigo em comum, o baixista Marcelo Soares. Foi Marcelo que nos apresentou, dando inicio a uma amizade muito bacana e muito musical também. Havia surgido a ideia de convidar o Arthur para produzir uma versão para a música "Quero te fazer feliz". Arthur topou e convidou Adriano Trindade e Kiko Continentino para gravar. O resultado ficou show!



Quais os projetos para o segundo semestre de 2013?
Estou em São Paulo iniciando a produção do meu novo álbum, que terá lançamento nacional, com a produção de Lua Laffaiete, tendo como foco o trabalho autoral. Esse trabalho será lançado pela produtora Venus One, com patrocínio da Bio Extratus Cosméticos Naturais.

Qual sua opinião sobre a música brasileira atual?
Achei que depois do império da “Bunda Music” nos anos 90 não tinha como piorar (risos), mas o brasileiro é muito criativo e conseguiu não só se afundar mais ainda na vulgaridade, como também conquistar uma legião de seguidores que mantém esse mercado tão deprimente. Falta uma maior união da classe dos mais esclarecidos para derrubar esse sistema corrupto e improdutivo.

E como você vê a música e cultura do Vale do Paraíba? Há incentivo para o florescimento de novos artistas?
Aqui falta tudo e mais um pouco! No Vale do Paraíba não se vê quase nada de incentivo para as artes. Existe, inclusive, dinheiro de sobra para todos os setores, porém a distribuição é péssima e injusta, além de prevalecer os interesses de cada umbigo. Mais uma vez imperam a vaidade e a ganância!

O que está na sua lista de reprodução do ipod atualmente, e o que você indica para o pessoal que está lendo a entrevista?
Música boa (risos)! Sei que podem pensar que o que é bom para mim, pode não ser para outras pessoas. Então, eu devolvo a pergunta: “o que você ouve no carro ou em casa, que já foi lançado há mais de cinco anos, e que ainda hoje te motiva ou te emociona?” Difícil, não é?! Vamos ouvir música com conteúdo, galera! E quem sabe a gente aprende a votar direito...

Qual o seu recado para quem também tem a pretensão de seguir na carreira musical e artística?
Meu recado é: "Façam tudo com amor e principalmente com conteúdo, pois o que é bom permanece, o que é ruim se torna apenas dinheiro...”.

Acompanhe o trabalho do Peleco e sua agenda de shows no site: http://peleco.com.br/.

Nenhum comentário:

Postar um comentário