Camila Pasin
Nascido na cidade de São José dos
Campos/SP, o cantor Peleco, que já trabalhou na alfaiataria do pai e
fez trabalhos como cinegrafista junto com o irmão, vem se destacando e
conquistando o seu espaço no mundo da música. Com vinte anos de carreira,
Peleco define seu estilo musical como “pop’n roll” e representa uma grande
aposta da MPB e POP no Vale do Paraíba. Já se apresentou em mais de duzentas
cidades do Brasil, além de outros países como Inglaterra, França, Peru e
Uruguai.
O último álbum lançado pelo joseense
foi gravado pela Som Livre de forma autoral, e teve produção e direção do cultuado produtor Guto Graça Mello.
Alceu Valença, Netinho, George Israel (Kid Abelha), Milton Guedes (Sax e
Flauta) e Priscilla Coutto tiveram participação no disco, que leva o nome do
cantor Peleco.
Em relação a
novos trabalhos, Peleco destaca a produção de um novo álbum que terá lançamento
nacional, pela produtora Venus One, e o projeto "Peleco
On The Road”, criado em comemoração aos seus 23 anos de carreira, e que tem
como finalidade o incentivo à distribuição e democratização cultural, através
de shows acústicos em praças localizadas em bairros com menor acesso à cultura.
Em entrevista concedida ao Entre Bandas, Peleco conta sobre tais
projetos, sobre sua carreira, abordando as inspirações e dificuldades pelas
quais enfrentou, além de mostrar uma opinião crítica em relação à música
brasileira atual e ao incentivo da arte no Vale do Paraíba:
De que forma teve início sua carreira na música
e como se deu seu interesse por esse ramo?
Cresci ouvindo muita música, pois sempre quando minha família se reunia
em churrascos e festas em casa, traziam um violão para a roda e não paravam
mais. Isso foi marcando minha infância e adolescência. As melodias, as letras,
os artistas... Até que descobri Elvis Presley, e então tudo mudou! Logo fui
estudar em um Seminário Salesiano, na cidade de Lavrinhas/SP e aprendi a tocar
violão. Foi então que decidi que iria viver da música... O que, graças a Deus,
faço até hoje.
Há algum projeto paralelo?
Além das apresentações de rotina, estou trabalhando em meu projeto
"Peleco On The Road", o que estou amando fazer, é algo mágico! Este
projeto tem um formato de show acústico, que estou oferecendo às prefeituras de
cidades com até 10 mil habitantes, onde a população tem como hábito curtir as
praças e fazer delas um ponto de encontro nos finais de semana. Para cidades
maiores, os shows são feitos nas praças de bairros com menor acesso à cultura.
Preparei meu ônibus para essa turnê e atenderei às cidades num raio de
até 250km. Funciona da seguinte maneira: a prefeitura contrata o show e minha
empresa vai com seu ônibus - que servirá de camarim e fundo de palco -, entra
com a estrutura de som e luz, além de um pequeno palco para o artista se
apresentar, fazendo lembrar artistas de rua na Europa. Os shows terão duração
de uma hora e vinte minutos. Após o show, daremos oportunidade aos artistas da
região para uma breve apresentação valorizando, assim, a cultura local.
Esse projeto será realizado em comemoração aos meus 23 anos de carreira
nas estradas do Brasil e do mundo. Faremos também ações sociais junto às
prefeituras.
Com duas décadas de carreira, como foi a
experiência de tocar no exterior, e qual show ficou mais marcado na memória,
tanto no Brasil quanto fora?
Só descobrimos o poder da nossa música quando estamos literalmente fora
de nossa zona de conforto. Só assim sentimos a força da nossa cultura étnica e
rítmica. Não há gringo que não pare pra admirar nossa arte, que é tão criativa
e alegre.
Fora do Brasil, um dos mais marcantes foi em Paris, num Café, ao lado do
cemitério do Père-Lachaise. Foi um contraste visual entre alegria e história,
tecnologia e conservadorismo.
Já no Brasil, eu poderia citar vários, mas nenhum se compara ao meu
primeiro show. Emoção igual, acredito que nunca mais terei.
Como você define seu estilo musical?
Na verdade, eu sempre gostei de rock, tanto que meu ídolo é Elvis
Presley. Adoro o pop, sou apaixonado pela MPB, mas penso que essa coisa de
rótulo até atrapalha um pouco, pois gosto de cantar de tudo. Mas, se é pra
definir meu estilo, eu digo que sou MPB, Pop'n roll (risos).
Quais as influências e inspirações para a
composição das letras e melodia?
Nunca me achei de fato um compositor nato, nem mesmo um grande
instrumentista. Comecei a compor por curiosidade, abordando situações e casos
que aconteciam comigo ou com alguém bem próximo a mim. Só com o tempo fui
melhorando as letras e melodias, compus algumas canções interessantes e
marcantes. Talvez eu não tenha dado tanto valor a esse lado meu, mas para ser
sincero, adoro mesmo é interpretar! (risos).
E as dificuldades que você teve de enfrentar
para se firmar no cenário musical até chegar ao reconhecimento atual?
Já fiz quase de tudo! Cantei em velório, casamento, serenata na janela
do noivo de uma amiga (eu fui o presente para o noivo, e minha amiga ficou
escondida. Foi engraçado porque o pessoal acabou achando que éramos um casal
gay (risos)). Além disso, já fiz show dentro de uma piscina, pois não tinha
mais lugar para o músico tocar, então esvaziaram a piscina e foi ali mesmo. Já
cantei para público errado, pois tocamos Caetano Veloso para um pessoal que
queria baile Funk carioca, quase arrumamos encrenca nesse dia. Mas também abri
show de mais de 40 artistas nacionais consagrados, cantei com alguns deles, e
fiz shows em mais de 200 cidades no Brasil.
Na verdade, pouca gente quer dar oportunidade ao outro, vivemos o
capitalismo cada vez mais selvagem. Dono de bar é assim: “tem público, eu
contrato; não tem, não contrato”. Não há parceria pelo novo talento, somente
pelo que já tem nome. Isso sem contar os cachês e os não repasses integrais do
couvert artístico. É triste, mas isso não mudará tão cedo.
No passado, as pessoas não me deixavam dar canja (tocar junto com outro
artista em apresentação) e eu voltava triste para casa. A partir de então, fui
criando meu diferencial até que surgiu uma oportunidade em um bar já extinto atualmente,
o Western House. Foi ali que comecei de fato a cantar na noite. Nós fomos nos
adaptando e dando um jeito nas coisas. É necessário sempre se reinventar e
trabalhar o marketing pessoal, caso contrário você é visto sempre como mais um.
Vale lembrar que até hoje tem músico que não deixa outro dar canja, achando
que vai perder o lugar... Pura vaidade! Eu não acho essa atitude bacana, os
músicos deveriam pensar nisso como um intercâmbio, pois quando for a sua vez de
almejar a conquista de um novo espaço para se apresentar, aquele músico a quem
você deu uma oportunidade no passado poderá, da mesma forma, retribuir a sua
gentileza. Caso contrário, os dois perdem.
Uma curiosidade... Boa parte dos que me negaram canja hoje pedem para
tocar comigo e os recebo de braços abertos, mesmo que talvez nem se lembrem
disso. Por essas e outras que músico tem muita história pra contar.
Qual seria, para você, a principal diferença
que o artista sente ao trabalhar de forma independente e com gravadora? O que
mudou?
Trabalhando de forma independente, você tem liberdade, mas talvez haja
falta de equipe, distribuição, e uma grande marca por trás o que, de certa
forma, contribui para novas oportunidades. Com um investidor, o artista tem
maiores possiblidades de ser contratado pelas gravadoras, o que foi o meu caso.
E como foi a gravação do seu primeiro CD com a
Som Livre?
Foi a realização de um sonho, era um universo ainda quase desconhecido
pra mim, fiz parcerias que jamais imaginei: Alceu Valença, Netinho da Bahia,
George Israel do Kid Abelha, Milton Guedes. Cada um desses artistas tem um
significado importantíssimo em minha formação musical. Alceu me remete a minha
pré-adolescência, ouvindo meus primos e tios cantarem, e escutando discos de
vinil. Netinho incendiava minhas noites de carnaval com invejável
profissionalismo. George Israel compôs canções que até hoje embalam nossos
corações. Já Milton Guedes encanta a todos com lindas melodias ao lado do
grande Lulu Santos. Essa turma, junto a outros que não citei aqui,
abrilhantaram meu trabalho com muito talento e hoje somos amigos.
Você trabalha com músicos famosos, como Adriano
Trindade, Kiko Continentino, Arthur Maia, entre outros. Como se deu essa
parceria e qual o aprendizado que você pôde obter com esses renomeados
artistas?
Sou fã do Arthur Maia já há muito tempo, ele é um artista e tanto. Tive
o privilegio de conhecê-lo através de um amigo em comum, o baixista Marcelo
Soares. Foi Marcelo que nos apresentou, dando inicio a uma amizade muito bacana
e muito musical também. Havia surgido a ideia de convidar o Arthur para
produzir uma versão para a música "Quero te fazer feliz". Arthur
topou e convidou Adriano Trindade e Kiko Continentino para gravar. O resultado
ficou show!
Quais os projetos para o segundo semestre de 2013?
Estou em São Paulo iniciando a produção do meu novo álbum, que terá
lançamento nacional, com a produção de Lua Laffaiete, tendo como foco o
trabalho autoral. Esse trabalho será lançado pela produtora Venus One, com
patrocínio da Bio Extratus Cosméticos Naturais.
Qual sua opinião sobre a música brasileira
atual?
Achei que depois do império da “Bunda Music” nos anos 90 não tinha como
piorar (risos), mas o brasileiro é muito criativo e conseguiu não só se afundar
mais ainda na vulgaridade, como também conquistar uma legião de seguidores que
mantém esse mercado tão deprimente. Falta uma maior união da classe dos mais
esclarecidos para derrubar esse sistema corrupto e improdutivo.
E como você vê a música e cultura do Vale do
Paraíba? Há incentivo para o florescimento de novos artistas?
Aqui falta tudo e mais um pouco! No Vale do Paraíba não se vê quase nada
de incentivo para as artes. Existe, inclusive, dinheiro de sobra para todos os
setores, porém a distribuição é péssima e injusta, além de prevalecer os
interesses de cada umbigo. Mais uma vez imperam a vaidade e a ganância!
O que está na sua lista de reprodução do ipod
atualmente, e o que você indica para o pessoal que está lendo a entrevista?
Música boa (risos)! Sei que podem pensar que o que é bom para mim, pode
não ser para outras pessoas. Então, eu devolvo a pergunta: “o que você ouve no
carro ou em casa, que já foi lançado há mais de cinco anos, e que ainda hoje te
motiva ou te emociona?” Difícil, não é?! Vamos ouvir música com conteúdo,
galera! E quem sabe a gente aprende a votar direito...
Qual o seu recado para quem também tem a
pretensão de seguir na carreira musical e artística?
Meu recado é: "Façam tudo com amor e principalmente com conteúdo,
pois o que é bom permanece, o que é ruim se torna apenas dinheiro...”.
Acompanhe o trabalho do Peleco e sua agenda de shows no site: http://peleco.com.br/.
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