sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Hip Hop: Elemento transformador

O Djing é um dos cinco elementos formadores do Hip Hop (Foto: Camila Pasin)

Por Camila Pasin, Isabela Romitelli, Nathália Rocha e William Orima


O interior tem voz. O nome do primeiro álbum de Coruja BC1, rapper bauruense, faz muito sentido quando se observa os arranjos produtivos em torno do movimento hip hop no contexto da cidade de Bauru, interior de São Paulo. MCs, DJs, grafiteiros, b-boys e b-girls, produção e difusão de conteúdo. Exploram-se os cinco elementos do movimento hip hop, o que se traduz em coletivos culturais, eventos e debates que envolvem o movimento e das questões que ele aborda. “Pra gente, na nossa cidade, faltavam apoio e incentivo de entidades públicas e privadas, quadro que vem mudando por conta do grande trabalho realizado pelo Ponto de Cultura Acesso Hip Hop, que vem fomentando e estimulando a cultura em nossa cidade. Hoje, muitos dos talentos que vêm sendo revelados em Bauru saem da cidade e recebem apoio total do Ponto de Cultura”, analisa Coruja. No final de semana do dia 15 de agosto, foi inaugurada a Casa da Cultura Hip Hop. O evento contou com shows, debates e saraus, e foi um exemplo da forma como pretendem atuar os movimentos que articulam o cenário do hip hop bauruense.

Coruja BC1 (Foto: Camila Pasin)

Ao longo do ano, serão oferecidas na Casa oficinas dos quatro elementos, isto é, Graffiti, Rap, Breaking e DJ. O espaço promoverá debates e reuniões entre coletivos como a Biblioteca Móvel – Quinto Elemento, coletivo de artes e literatura, e a Frente Feminina de Hip Hop de Bauru, coletivo formado pelas mulheres que compõem a cena local por meio de saraus e ações sociais.



Dos EUA às quebradas brasileiras

O hip hop nasceu como um movimento periférico e plural em termos de produção cultural, contemplando música, pintura, dança e conhecimento. Teve origem da década de 1970 em comunidades latino-americanas, jamaicanas e afro-americanas da cidade de Nova York e, segundo Afrika Bambaataa, considerado o pai do movimento, surgiu com a proposta de acabar e criticar – através da arte – a violência em que estavam imersas as gangues dos guetos norte-americanos.

Dos guetos dos Estados Unidos às periferias daqui, a expressão brasileira do movimento nasceu nas quebradas. Nas letras dos MCs e nos muros grafitados, a realidade das comunidades pobres.

“Sempre fui sonhador, é isso que me mantém vivo/Quando pivete, meu sonho era ser jogador de futebol, vai vendo/Mas o sistema limita nossa vida de tal forma/Que tive que faze minha escolha, sonhar ou sobreviver/Os anos se passaram e eu fui me esquivando do ciclo vicioso”, os versos, da música Vida é Desafio, do Racionais MCs, uma das mais antigas e importantes bandas do rap nacional, expressam em tom de crítica a vida na periferia.

Grafiiti nas ruas bauruenses (Foto: Camila Pasin)
Canela Beats, DJ e produtor musical, falou sobre a importância do rap enquanto ferramenta de crítica social e comentou a ligação que tem com a periferia. “A quebrada é muito importante, o hip hop nasceu nas quebradas e sempre vai estar lá, quanto mais as comunidades apoiarem cada vez mais o movimento, melhor pra cidade, pras crianças e pro próprio movimento, sem a quebrada não existe o hip hop”.

Embora tenha nascido na periferia, o movimento tem ganhado relevância. Grafiteiros alcançam destaque nacional e internacional. Rappers são chamados a programas em grandes emissoras de televisão. Apropriam-se dos espaços de difusão para pautarem questões sociais, como o racismo e a pobreza. Mas, segundo Camila Pinheiro, integrante da Frente Feminina de Hip Hop de Bauru, ainda há preconceitos.

Camila Pinheiro, integrante da Frente Feminina de Hip Hop de Bauru (Foto: WIlliam Orima)
“A gente vê que houve uma melhora, mas a música ainda não tem uma repercussão tão grande na mídia. Há uma aceitação entre aspas, o hip hop ainda é visto com preconceito. Não há interesse nenhum da sociedade e da mídia para que nossa voz seja ecoada, somos podados sempre e estereotipados. Tentam fazer com que nossa voz cale”, afirmou Camila.

Outras vozes

“Rima pesada basta, eu falo memo, igual Tim Maia/Devasta esses otário, tipo calendário Maia/Feminismo das preta bate forte, mó treta/Tanto que hoje cês vão sair com medo de bu*/Drik Barbosa, não se esqueça/Se os outros é de tirar o chapéu, nóiz é de arrancar cabeça”. O trecho de Mandume, música de Emicida que reúne vários artistas, mostra um novo cenário no hip hop. Embora a participação das mulheres no movimento não seja nova – em 1986, artistas como Sharilayne já questionavam o machismo do setor -, a maior presença feminina e a autoafirmação de artistas enquanto vozes importantes e políticas dentro do rap e do hip hop é recente.

“Graças a um grupo de mulheres que vieram antes de nós, as mulheres conseguem articular e fazer o hip hop acontecer independente dos homens. Não só com a música, temos grafites muito bons de mulheres, e que não deixam passar a questão do feminismo”, pontuou Karol Lombardi, integrante da Frente Feminina de Hip Hop de Bauru.

Karol de Souza, rapper curitibana (Foto: Camila Pasin)
A pluralidade de vozes não se restringe às mulheres. Ter, em um meio predominantemente masculino e masculinizado, um rapper assumidamente gay afirmando em suas rimas a sua sexualidade, também representa uma maior abertura do setor. É o caso de Rico Dalasam em sua música Aceite-C: “boy, eu quero ser seu man”. Em entrevista ao Uol, ele falou sobre a importância de se quebrar essas barreiras. “O próximo estágio é estar todo o mundo ali no mesmo espaço, casais, todo o mundo convivendo por uma visão maior. O hip-hop é bem mais.”.

Um comentário:

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